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11 de Outubro de 2023
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29 de Março de 2019
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27 de Maio de 2020
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26 de Abril de 2022
Lea masO brilho no olhar é uma das características do zootecnista Antonio Chaker ao falar da profissão. “A zootecnia deixou de ser uma profissão para mim e virou um propósito de vida, um propósito de carreira, o que me traz significado para acordar todo dia, cada dia mais cedo, e fazer cada vez mais”, conta. Graduado em zootecnia e mestre em produção animal pela Universidade Estadual de Maringá (PR), o consultor sênior atua há 17 anos em projetos de gestão agropecuária e tem como foco a ampliação de gerenciabilidade e lucro de fazendas. Chaker também é coordenador do Instituto Inttegra, que monitora 420 fazendas no Brasil, Paraguai e Bolívia. A sua jornada de trabalho não para por aí. Ele ministra treinamentos desde 1997 e é colunista da Scot Consultoria, Giro do Boi (Canal Rural), entre outras mídias. Atualmente, dedica-se a adaptação e aplicação dos métodos de gestão para resultados à realidade especifica do setor agropecuário. Para comemorar o mês do zootecnista, conversamos com profissionais renomados para conhecermos um pouco mais de dessas histórias de sucesso. Leia abaixo a entrevista completa de Antonio Chaker. 1. Por que escolheu a zootecnia? Prestei vestibular no início dos anos 90, quando a zootecnia, apesar de já ter uma história, era recente em comparação à imagem que temos hoje. Eu sempre gostei muito de administração, produção e, naturalmente, escolhi fazer vestibular para administração. Até que um tio, que era produtor, me disse: “Você já pensou em fazer Zootecnia? Ela é a área que ajuda a aumentar a produção da fazenda”. E eu pensei: então é isso. Fui para Maringá (PR) fazer o vestibular e fiquei em uma república de estudantes de zootecnia. Ali tive a oportunidade de conversar com eles e entendi que a zootecnia era a profissão da minha vida. Entrar dentro de uma fazenda e garantir que ela fique melhor, que ela produza mais, que ela ganhe mais dinheiro. Decidi fazer zootecnia porque entendi que ela ia me ensinar a ser uma agente de transformação. 2. Quando escolheu a zootecnia, queria trabalhar com o que? Durante o processo da faculdade, eu naveguei por diversas áreas. Estagiei em áreas como a suinocultura, caprinocultura até bovinocultura. Quando eu tive a oportunidade de estagiar com bonivicultura, percebi que de todas as áreas ela era a mais apaixonante. Eu tinha uma tendência a gostar de fazenda, sou filho de produtor, então eu tinha essa preferência pela pecuária de corte. Quando me formei, trabalhei em uma fazenda no Mato Grosso do Sul e entendi que a profissão de zootecnista era muito poderosa. Eu já tinha uma predisposição a gostar de pecuária e, a partir desse momento, foi um gatilho para continuar a carreira dentro da atividade, que foi evoluindo para gestão da pecuária, que evoluiu para gestão agropecuária, área em que cuidamos não apenas dos aspectos da pecuária, mas também da agricultura. 3. Pode falar um pouco mais sobre o seu trabalho e a sua trajetória profissional? Eu sou formado na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Logo que me formei fui trabalhar em uma fazenda no Mato Grosso do Sul e fiquei lá por quase três anos. Morei na fazenda, entendi o sistema e percebi que eu precisava de mais. Então voltei para Maringá para fazer mestrado. Estudar depois de uma temporada no campo foi muito poderoso. O mestrado me ensinou a ler, a escrever, a falar em público. Durante esse processo, surgiram algumas demandas de consultoria. Naturalmente, finalizado o mestrado, potencializei essas demandas, não apenas na área de gestão, mas também de produção. Junto com o professor Antonio Ferriani Branco, fundei em 2002 a Terra Desenvolvimento (empresa de consultoria), onde permaneci até 2015. Depois disso decidi me concentrar no método Métricas Gerenciais e criei o Instituto Inttegra. Algumas empresas de consultoria, como a Terra Desenvolvimento, se tornaram franqueadas do Instituto. Hoje são oito empresas franqueadas, todas com zootecnistas, e atendemos 420 fazendas. Temos quase de 60 pessoas no campo, vindas dessas empresas. Assim, segui uma trajetória de graduação, fazenda, mestrado, consultoria e franqueadora. 4. Qual a importância da zootecnia e como ela faz e pode fazer a diferença? Eu sempre falo que a gente precisa navegar nas posições proximal e distal, ou seja, ver de perto e ver de longe. A zootecnia é fundamental para que a gente possa ter entendimento do processo, que é o proximal, como o sistema de produção, da nutrição, do manejo de pastagens, mas ela também traz a visão distal, que é a visão da interação de todos esses fatores, a visão do todo. A zootecnia foi fundamental para que eu tivesse esse entendimento. As pessoas me perguntam, “você trabalha com gestão, por que não fez administração?”. Eu respondo que qualquer gestor do processo agropecuário só vai conseguir ter uma excelente eficiência se ele dominar o sistema de produção. E o sistema de produção é técnico. Por isso você vê muitos técnicos operando com gestão, mas você não vê especialistas em gestão trabalhando diretamente na agropecuária. Quando eu falo diretamente, é na produção, na fazenda. Por que? A operação do dia a dia da fazenda é fundamental para que você possa tomar as melhores decisões gerenciais. E essa é a grande vantagem da zootecnia. Pelo fato de ela oferecer tanto a visão proximal quanto a visão distal, faz com que possamos navegar em todos as áreas. A zootecnia conecta todos os aspectos da produção. É interessante quando você percebe os cargos de liderança nas fazendas, nas indústrias e, muitas vezes, em cooperativas de produção. É muito comum você ter o zootecnista liderando esses processos. Isso explica também o tipo de formação e talvez o tipo de profissional que a zootecnia atrai. Pessoas que têm uma visão produtiva, uma visão de desenvolvimento, uma visão de crescimento, e é por isso que elas acabam liderando as operações agropecuárias. 5. Como avalia a zootecnia no Brasil? Aponta alguns caminhos que poderíamos seguir? A zootecnia hoje tem sido fundamental para a transformação que o Brasil vive no setor agropecuário. Uma gratidão muito grande à zootecnia, às academias, aos institutos de pesquisa, à iniciativa privada. Acredito que a zootecnia deve continuar crescendo e atualizada das novas frentes. É muito legal perceber as principais universidades do país olhando para esse caminho. Por exemplo, o zootecnista caminhando para a pecuária de precisão, big data, machine learning, automação. 6. Você acredita que a zootecnia vem como opção de formação para a área tecnológica? Temos a zootecnia como a principal formação no caminho da área tecnológica, no que diz respeito a coleta, análise e processamento de dados, entregando cada dia mais informação. A evolução da zootecnia segue por um desses caminhos. Em conjunto a isso ela também avança numa segunda vertente, que é o aspecto de desenvolvimento humano, na qual o zootecnista é um agente de transformação. Ele passa a dominar os aspectos de gestão de recursos humanos, entendendo as ferramentas para que isso aconteça. São ferramentas de desenvolvimento de equipe, que estabelecem processos de feedback e entregam a um líder a condição para exercer o seu papel. Temos então o analista técnico (big data, automação) e o gestor de pessoas. E em um terceiro eixo temos os aspectos de gestão em si. Quando falo isso são os fundamentos para se estabelecer um plano estratégico plurianual, definir metas, construir um processo de gestão de produção completamente integrado, para que seja possível respeitar o meio ambiente, produzir mais com menos, preservar o contexto da felicidade humana, respeitando naturalmente os animais. Então são três aspectos: tecnológico, humano e de gestão. Claro que nunca deixando de lado a nossa essência, que é o da produção animal, da produtividade, do conhecimento profundo das diferentes áreas técnicas em que atuamos. 7. Quais dicas você daria para quem está começando? A principal dica é reconhecer que um zootecnista ou uma zootecnista, principalmente recém-formado, tem que se entender como um agente de transformação. Eu brinco que você não é só um zootecnista, você é um zootecnista transformador. Ou seja, esse jovem que está iniciando a carreira deve trabalhar com toda a sua energia para quando entrar em um processo de produção, em uma fazenda, indústria ou cooperativa, qualquer ambiente onde atuar, entre com um olhar de ruptura, de o que vou promover de mudança, o que é necessário fazer agora. Todo início de carreira exige um pouco mais de resiliência, de superação, de paciência. É importante que ele saiba que o início vai exigir que ele trabalhe umas horas a mais, e que ele possa conquistar o seu espaço mostrando como realmente pode fazer a diferença naquela corporação. Foi assim com 100% das pessoas que eu conheci que realmente queriam fazer. Elas não tinham experiência, mas tinham vontade. Eu costumo dizer que a zootecnia dá a faca e o queijo, mas a fome deve vir do zootecnista. A América do Sul precisa muito do zootecnista. A gente ainda tem níveis baixos de produtividade, níveis baixos de margem, quando você pensa na média do país em que vivemos, apesar de termos evoluído muito nos últimos anos. Nunca houve tanta oportunidade para o zootecnista transformador como temos agora. Então essa fome, essas horinhas a mais e essa capacidade de ser uma agente de mudança, de não se conformar com o status quo é a grande dica que tenho para quem está começando. 8. Você escreveu o livro “Como ganhar dinheiro na pecuária. Os segredos da gestão descomplicada”. Pode falar um pouco sobre a ideia do livro e se essa é uma realidade no cenário brasileiro? O livro era uma ideia antiga que eu protelava em razão de outros compromissos. Até que o Fábio Dias, zootecnista inspirador da minha geração, me incentivou, falou “vai, escreve, vai que eu te apoio”. E com esse incentivo eu pensei que a gente já trabalha há 20 anos com isso, a gente já tem um método de trabalho. O livro é uma documentação bem-humorada, detalhada e informal, mas com todos os processos que uma fazenda deve realizar para ganhar mais dinheiro. O livro segue o nosso aprendizado, nesses anos em que trabalhamos impactando mais de 1000 propriedades, com o que funcionou e não funcionou ao longo desses anos. Com tudo o que aprendemos, passo-a-passo, contas, etapas, problemas que podem surgir. Para um leitor, que mesmo que não seja técnico, entenda que sempre existe um processo. Não existe um caminho fácil, não existe caminho curto. Porém, quando você segue um ritual, ou seja, primeiro eu descubro onde estou, depois eu estabeleço onde quero chegar, no local onde quero chegar devo respeitar tais elementos, depois devo executar, respeitando as características da execução, faço então uma análise de risco, entendo qual equipe vai executar, e faço o controle. É um processo de gerenciamento muito aplicado, que faz com que as fazendas entreguem melhor resultado. Hoje, mais de 93% das fazendas que utilizam esse processo entreguem melhores resultados econômicos e financeiros. A ideia do livro é também dar acesso às pessoas que não têm condições de contratar uma consultoria. Fui porta-voz de um grupo de consultores que já utilizam esse método. 9. O que o Brasil tem como exemplo que pode levar para o mundo? O que fazemos aqui que dá certo? O Brasil tem uma grande diferença dos outros países, ele é enorme. As dimensões, o potencial. Aqui a gente tem solo, tem água, tem gente. Temos muita coisa boa desenvolvida dentro dos nossos sistemas de produção e acredito que o Brasil pode levar isso para o mundo. Por exemplo, acho difícil encontrar alguém que saiba manejar pastagem tropical melhor que a gente, apesar de pastagem ainda ser um desafio. Muitos produtores, técnicos e consultores dominaram esse aspecto. A suplementação a pasto também é algo muito especial aqui. Algumas técnicas de determinação intensiva a pasto, mais uma vez, também somos craque e podemos ensinar para o mundo. Tudo o que for de tecnologia de produção baseada em ambiente pastoril, de alto nível de produtividade, de alta qualidade, somos imbatíveis. 10. E o que funciona por aí, em outros países, que o Brasil poderia estudar e aplicar? O que podemos aprender com os outros é de fato uma disciplina produtiva. Acredito que as oportunidades que os países mais desenvolvidos têm é a rigidez na disciplina produtiva. Existe algo que para nós está chegando agora, que é fazer mais com menos. A Europa, por exemplo, já passou pela fase de altíssima produtividade e agora passa por uma fase de otimizar o uso de recursos, respeito ao meio ambiente. Quando falamos em meio ambiente o Brasil respeita muito. Temos muito mais reservas que a maioria dos países. Do ponto de vista ambiental, apesar de toda a pressão, quando você analisa qualquer número, a gente tem muito a ensinar para o mundo. Mas naturalmente os países desenvolvidos podem nos ajudar a ter um melhor uso dos recursos, dos insumos, que é realmente produzir mais com menos, produzir alimento funcional, produzir com maior qualidade. Especialmente, produzir no aspecto de comercialização, onde sabemos que podemos evoluir. Nosso produto tem melhorado muito, mas o preço médio, principalmente da carne, que fica aquém de outros países. Nosso grande aprendizado é conseguir comercializar melhor os nossos produtos, que já têm qualidade. 11. Você fala da zootecnia com muita paixão. Como isso se mantém depois de tanto tempo? Sobre a zootecnia tenho uma palavra: gratidão. Eu sou apaixonado, quase todos os zootecnistas que conheço são apaixonados. Tenho gratidão por tudo o que a zootecnia me entregou. Venho de ensino público, graduação e mestrado, e tenho muita gratidão ao que eu tive e vivi. A todos aqueles que fizeram zootecnia, acho que é uma obrigação devolver um pouco do que aprendemos ao longo da carreira para quem está começando. Voltar à universidade, conversar com os recém-formados e, se possível, gerar emprego ao zootecnista. É uma missão. A zootecnia deixou de ser uma profissão para mim e virou um propósito de vida, um propósito de carreira, o que me traz significado para acordar todo dia, cada dia mais cedo, e fazer cada vez mais. Fonte CFMV
14 de Maio de 2019
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