CLUBE FAZENDA NOTA 10! INICIATIVA AJUDARÁ QUEM NÃO CONSEGUE MEDIR OS NÚMEROS DO REBANHO
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26 de Abril de 2022
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Trabalho com números de pecuária de corte há mais de vinte anos e, neste tempo, tive oportunidades de me aventurar por análises de negócios fora da porteira como frigorifico de bovino, abate e produção de embutidos suínos, transportadora, serraria, produção de arroz negro, frutas e outros de derivados do agro e, até, farmácia de dispensação. Todas estas oportunidades me deram uma certeza: é muito difícil superar uma fazenda de cria profissional em termos de rentabilidade. Vou explicar porque sustento com tanta energia essa convicção.
Vamos começar pela margem. Ela é a distância entre e a receita e a despesa, simples assim. Quanto maior esta distância, maior a margem. Acontece que, na pecuária, existem dois caixas: o caixa dinheiro e o caixa rebanho. Todas as vezes que avalio o balanço do meu negócio pecuário, faço a conta do dinheiro (receita total menos desembolso total) e somo a este resultado quanto o rebanho cresceu ou diminuiu. De nada vale gerar um elevado caixa dinheiro e reduzir o rebanho. Da mesma forma, se o caixa está meio apertado, mas a fazenda teve um crescimento de rebanho, a situação não está tão crítica quanto o desconforto indicado pelo caixa de “pouca folga”.
Agora que explicamos como a conta é feita, nada melhor que olharmos os números. Sempre classificamos os resultados das fazendas em quatro níveis: ruim, regular, bom e ótimo. A estatística chama isso de distribuição por quartis, ou seja, os piores 25%, entre 25% e 50% e entre 50% e 75% e, nas melhores, 25%. Para ilustrar aqui, nem preciso explorar os dados nas ótimas (top de quartil). Vou me concentrar em apresentar os resultados das 25% melhores (as boas). Em 222 propriedades, cuidadosamente estudadas nas últimas 8 safras, a margem das fazendas do terceiro quartil foi de 37,88%. Isso mesmo, para cada R$ 100 que a fazenda faturou, foi gerada R$ 37,88 de resultado líquido.
Margem sobre a venda da cria nas últimas 8 safras
Fonte: Instituto Inttegra
Na pior safra da série, a margem ficou em 22%. Coincidentemente, foi nesta mesma safra que houve propriedades de cria que entregaram mais que 60%, ou seja, apesar da conjuntura, as melhores fazendas tiveram grande desempenho técnico e responderam a qualquer limitação de mercado.
Uma equação simples pode tangibilizar a potência econômica da cria. Existem dois métodos para cálculo do custo do bezerro: o método por absorção e o método por equivalência (acercamento). Vamos utilizar este último: o desembolso por bezerro é obtido pela seguinte fórmula - R$/matriz/mês x 12 meses taxa de desmame + insumos do bezerro. Em média, uma matriz custa 60 reais por mês, temos a taxa de desmame referência de 75% e os custos diretos do bezerro (reprodução + sanidade) ficam em torno de R$ 125, o que, na prática fica: R$ 60 x 12 meses 75% + R$ 125 = R$ 1.085. Já pensou, poder produzir um produto a R$ 1.085 e vender por R$ 3.000?
Em termos de margem, é indiscutível que a etapa da cria tem a maior da pecuária, mas há um ponto que deve ser observado: muitas vezes ela perde em resultado por hectare por operar com lotações muito baixas. Muitos pecuaristas já perceberam isto e cada dia está mais comum sistemas intensivos de cria.
Agora que a margem já foi apresentada, vamos falar da escalabilidade. Palavrinha muito presente no mundo das startups. A escalabilidade mede a capacidade de crescimento da empresa. Poucas atividades são tão escaláveis quanto a pecuária. Podemos crescer o rebanho dentro da fazenda intensificando as pastagens e a estratégia de seca ou podemos crescer fora em arrendamentos e parcerias. O fato é que sair de 500 matrizes para 1.000 normalmente é uma questão de tempo e estratégia. A cria cresce organicamente 8% ao ano, valor este que pode ser potencializado quando utilizamos a estratégia de compras. Acompanho projetos com crescimento de 25% ao ano.
Liquidez, a terceira característica e o grande superpoder da pecuária: gado é dinheiro. Uma das principais perguntas do investidor é: qual a liquidez deste ativo? Na pecuária, caso seja necessário, transformamos gado em dinheiro com uma ligação. Esta mesma característica não se aplica ao imóvel fazenda nem aos tratores. Imagine um empresário do ramo de calçados que tem um grande estoque e precisa de caixa. Com certeza, terá muito mais trabalho em uma conversão rápida que a venda dos bovinos em uma fazenda.
Renda recorrente, nosso último elemento, é o fluxo contínuo de receita consequência do modelo estratégico da empresa. A Netflix, por exemplo, tem em seu modelo de negócio renda recorrente, todo mês um débito ocorre na conta do cliente e é creditado para a empresa. Você pode se perguntar: o que isso tem a ver com a cria? A cria é recorrente, todo ano desmamam-se bezerros. Apesar de ser necessário expor as matrizes à monta, o esforço é incomparável com quem precisa plantar soja ou mesmo sair todo ano para comprar reposição. Quem tem vaca, tem renda recorrente!
A cria oferece 40% de margem, é escalável, tem alta liquidez e apresenta receita recorrente. Aproveitar estas características é papel do pecuarista, afinal, tudo isso ocorre apenas em propriedades profissionais com equipe motivada, animais bem nutridos, sanidade em dia e reprodução bem estruturada. O negócio é ótimo, cabe ao pecuarista aproveitar. O sucesso da cria é uma decisão.
Fonte: Elanco
Link: https://www.criasaudavel.com.br/pt-br/cria-saudavel/artigos/gestao/article1/
10 de Setembro de 2021
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