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Digo isso, pois essas duas características são intrínsecas da atividade e precisam ser assumidas para que a longevidade do negócio seja possível. Ao nos apoderarmos dessa realidade, o planejamento passa a ser algo inerente e necessário ao processo. Suas etapas passam a fazer parte da rotina assim como a ronda do gado em um confinamento.
Enfatizo, que a pecuária de amanhã é pensada hoje, de forma simples e com poucos, porém, eficazes parâmetros norteadores.
E, por mais clássicas que sejam as ferramentas de planejamento é preciso valer-se de referênciais próprios da pecuária para que se saiba em qual direção seguir. Tudo, sem deixar de lado as questões políticas e culturais da propriedade que tratamos no último artigo. Leia aqui
Pensando no planejamento em si, a primeira parte consiste em conhecer muito bem qual é a situação atual do negócio. Ao fazer uma dieta, para saber quantos quilos se quer emagrecer é preciso saber quanto se está pesando, não é verdade? O mesmo para o planejamento. Para saber o que se vai planejar é preciso traçar um diagnóstico da realidade para que não se definam metas super ou subestimadas para a equipe.
FIGURA 1.
Fluxograma das ferramentas de planejamento.
Fonte: Inttegra métricas pecuárias
E, em meio a tantas informações que podem construir o diagnóstico técnico, qual é a principal?
Com certeza, o ponto chave está em reunir os dados referentes ao rebanho e finanças. Saber quanto de gado foi movimentando nos últimos 24 meses bem como os estoques iniciais e finais de cada safra. Essa informação deve ser anotada em número de animais e em arroba. Para as questões financeiras, o foco deve estar em mapear o caixa, com informações de receita e despesa, mês a mês. Caso seja possível, o ideal é dividir as despesas em custos fixos, custos variáveis e investimentos.
Dados acumulados é hora de transformá-los em informação. A movimentação do rebanho permite contas que vão mostrar as três principais medidas que trazem transparência ao negócio. Serão elas: GMD (Ganho Médio Diário) Global (produção em kg dividida pelo número de cabeças), @/ha/ano (produção em @ dividido pela área) e lotação mês a mês. Não é preciso mais nada! Esses três dados são a referência necessária para saber onde se está tecnicamente.
Pelo lado financeiro, a informação gerada será a divisão do total de despesa por arroba produzida, pois ela permite identificar, principalmente, se o lucro está sendo abocanhado pelos custos. Como complemento, também é possível fazer a análise de indicadores de equipe, calculando-se a relação entre cabeças de gado e funcionário ou a produção dividida por funcionário.
Estamos na fase final do diagnóstico, pois já levantamos os dados e transformamos em informação técnica e financeira. Agora é preciso concluir. Saber o que está bom, o que não está e por quê? Para avaliação, o Instituto Inttegra vale-se de sua régua de referência e a matriz de perfil de despesa. Esse comparativo mostrará quais são os pontos a melhorar no negócio. Lembramos que a análise cuidadosa deve ser feita por técnicos especializados do setor que possam comparar dados de forma correta e de fonte segura. Portanto, a partir dessa régua de referência, o produtor sabe onde ele está. Conhece a realidade nua e crua da propriedade e tem uma visão clara da parte técnica e financeira.
Planejamento em si
Conhecendo a realidade pode-se definir o tamanho do passo, ou seja, a visão da fazenda para o próximo quadriênio. Para isso, o pecuarista não irá sentar na varanda e sonhar com os números que espera para produção. Ele irá mirar-se na tabela de planejamento (Tabela 1).
TABELA 1.
Situação da produção e planejamento do resultado.
Fonte: Inttegra métricas pecuárias
A tabela de planejamento apresentada propõe uma meta exequível, obtida a partir de informação estatística somada ao conhecimento de consultorias de campo. Propositalmente, os resultados são esperados para quatro anos, lembrando que a pecuária é plurianual. Quem não tem performance, provavelmente, não tem um rebanho alinhado com a real capacidade da produção da fazenda. Para realizar esses ajustes são necessários, pelo menos, quatro anos. O quadriênio é o tempo para as fases de redução de rebanho, ajuste de fazenda e retorno ao crescimento do rebanho. Em casos de muito esmero e determinação a meta será alcançada antes do previsto, assim, será feito um redimensionamento durante os acompanhamentos.
A indicação da tabela permitirá definir valores que serão desdobrados no planejamento. Por exemplo, em uma fazenda de 1.500 ha de pastagem, o objetivo é chegar a R$500/ha/ano para atingir o resultado de R$600 mil. Portanto, é preciso definir qual deverá ser o faturamento e como consequência quantas arrobas deverão ser comercializadas por ano. Da mesma forma se estabelece o nível máximo de desembolso. A partir deste ponto se obtém qual deve ser o GMD, lotação e desembolso de cabeça/mês para essa meta.
Mas como fazer isso?
O terceiro passo está em definir as estratégias para atingir o GMD, lotação e desembolso estipulados. Repare, somente agora serão definidas as questões táticas e operacionais para cada semestre, mês e semana. Apenas na terceira fase da construção do planejamento serão analisadas as tecnologias disponíveis e que poderão ser implantadas na fazenda.
Dentre as áreas de atuação, normalmente, o primeiro item avaliado é a estratégia nutricional e disponibilidade de forrageira. Ela deve permitir alcançar o ganho médio diário estipulado, como também garantir a lotação que foi prevista. Tudo isso, sem superar a base orçamentária definida. Da mesma forma, olha-se para as questões de sanidade e de reprodução. Seguindo a mesma linha define-se quais são as habilidades necessárias para a equipe e como serão conquistadas. A plano avança para as questões de infraestrutura, máquinas e mercado.
Nessa hora, muitas vezes, ao perceber que não há caixa para todos os investimentos ou que a equipe ainda não está pronta para implementar a tecnologia de modo satisfatório, dá-se um passo atrás e são refeitas as metas de GMD, lotação e gasto por cabeça mês. Aquela fazenda que esperava ganhar R$500/ha/ano passará para R$350/ha/ano, porém, com táticas definidas e possíveis de serem operacionalizadas. É uma quebra cabeça que deve reunir o senso de realidade com ao que se espera de faturamento para a fazenda.
Planejamento definido, ele não é algo para ser guardado como um tesouro, mas um mapa de percurso para ser consultado semanalmente, nas reuniões de checagem de execução. Não é estático, mas é norteador. Ele traz transparência para toda a gestão da fazenda e a certeza da lucratividade esperada.
16 de Março de 2018