CLUBE FAZENDA NOTA 10! INICIATIVA AJUDARÁ QUEM NÃO CONSEGUE MEDIR OS NÚMEROS DO REBANHO
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No caso da cria, é momento de manter os reprodutores, pensando nas oportunidades para segurar os bezerros. E o mais importante para todos é gastar certo. Isto é: aquilo que interfere na produção não pode ser cortado. Revista AG - É necessário o pecuarista enxergar a pecuária de forma mais ampla? Antônio Chaker – A pecuária nada mais é que um processo de transformação, onde o capim transforma-se em carne. Quando o pecuarista tem essa filosofia de conversão, enxerga a atividade projetada por hectares e não por cabeças. Portanto, a fazenda passa a ser avaliada em resultados por hectare, faturamento e custos. A partir desse momento, o produtor consegue enxergar espaço para crescimento. Enquanto um produtor de milho ou soja gasta em torno de R$ 3 mil por hectare para fazer uma lavoura, o cafeicultor R$ 8 mil e o canavieiro R$ 6 mil, o pecuarista desembolsa somente de R$ 300 a R$ 400. Quando pensamos que a pecuária é menos rentável, é porque insistimos em compará-la com o resultado final dessas atividades citadas. Os pecuaristas precisam olhar mais para a fazenda e menos para o boi/vaca, ponderando que o animal é apenas um elemento inserido no processo. Revista AG - Qual sua definição para o conceito de “pecuária de alto desempenho”? Antônio Chaker - Pecuária de alto desempenho é a atividade que supera R$ 1.000,00 por hectare. Para atingir esse objetivo, é fundamental que duas variáveis técnicas sejam muito bem trabalhadas dentro da propriedade: lotação superior a quatro cabeças por hectare e um bom ganho médio diário (GMD) de peso. Então, fazenda que está buscando essa meta deveria ter um nível de produtividade acima de 30 arrobas/hectare/ano. Essa meta é para propriedades grandes. Mas há outra boa métrica para alto desempenho que é a fazenda faturar por ano uma quantia equivalente a 15% ao valor do rebanho que possuí ou ainda faturar R$ 500 por hectare/ano. Tanto um quanto o outro é considerado uma pecuária de nível profissional. Revista AG - O que o produtor pode fazer para enxergar de forma fácil e rápida se a propriedade dá lucro ou prejuízo? Antônio Chaker - A melhor forma do criador entender se a propriedade está apresentando lucro ou prejuízo é por meio de uma equação muito fácil de se fazer: primeiro, o produtor determina o período de 1 de julho a 30 de junho. Da receita total da fazenda no período, subtraí todas as despesas e soma a esse resultado o quanto o rebanho dele aumentou ou diminuiu. Como naturalmente o pecuarista transforma o rebanho em dinheiro no final da safra, ele assimila quantas cabeças possui, quanto pesam e qual é o valor da arroba, então, já sabe quanto vale o patrimônio pecuário nos dois extremos (1 de julho e 30 de junho). Assim, a receita total, menos a despesa total e mais o tamanho do rebanho, dividido pela área de pasto trará o resultado por hectare. Revista AG - Em uma de suas avaliações dos clientes do Instituto Terra, em 2013, você identificou que 57% das fazendas atendidas davam prejuízo. O que fizeram de errado? Antônio Chaker - Este número atualmente navega na casa dos 20%. O erro principal foi conduzir a fazenda às cegas. Não prever quanto a fazenda vai faturar e gastar. É como jogar boliche com um lençol na frente dos pinos. Em via de regra, quem perde dinheiro é porque não teve uma visão clara de como a fazenda vai se comportar daqui 12 meses. Aí quando fecha a conta, o pecuarista toma susto. Quem, antecipadamente, verifica que o projeto é negativo, já consegue tomar as medidas cabíveis em tempo hábil. Uma boa dica seria avaliar o mercado a cada seis meses nos próximos dois anos e, a cada ano, projetar como será o mercado daqui a quatro anos, lembrando sempre do ciclo pecuário. Revista AG - Para as empresas que desejam prosperar na atividade, qual o maior desafio: investir em tecnologia ou ter acesso à mão de obra qualificada? Antônio Chaker - Seria uma combinação dos dois. A mão de obra é um ponto de extrema relevância, contudo está inserida em um processo gerencial. Às vezes a fazenda tem colaboradores qualificados, porém, não recebem a orientação necessária para adoção do aparato tecnológico. Se o produtor precisa implementar uma tecnologia de suplementação, por exemplo, ele deve orientar o colaborador que o animal precisa ser suplementado duas vezes ao dia, além de indicar que o objetivo dessa estratégia é que o gado ganhe 850 gramas/dia. Revista AG - Mais específico a esta última pergunta, seria a questão de contratar mão de obra qualificada ou criá-la em casa (sem perdê-la, claro)? Antônio Chaker - É mais viável e preferível capacitar os próprios colaboradores. No entanto, a visão temporal em cada função é um complicador. O dono da fazenda projeta a fazenda dez anos no futuro, o gerente cinco, o capataz um ano e o peão o dia ou, no máximo a semana. Ou seja, um campeiro destinado a assumir o cargo de capataz, além de ser um indivíduo muito hábil na função, necessita ter uma visão mais à frente da atividade. E tudo isso só faz sentido aos projetos onde os resultados já foram anteriormente estabelecidos. Para reter um funcionário, uma propriedade precisa ser um local de trabalho desejado no mercado. Assim, atrai pessoas qualificadas e o pecuarista consegue atrair o profissional certo à tarefa proposta. É imprescindível que haja uma perspectiva de motivação de carreira por meio dos desafios inerentes ao cargo bem como da melhoria de vida do seu núcleo familiar. Esse ambiente de desafio e recompensa acaba mantendo os profissionais por mais tempo nas fazendas. Revista AG - O cumprimento do cronograma é o maior diferencial entre as fazendas que prosperam e as que estagnam? Antônio Chaker - Exatamente. No agronegócio, o time das ações é muito mais importante até que os investimentos em tecnologia. Porque o pecuarista não tem só o time comercial, mas também o climático, biológico, etc. Eu brinco que a diferença entre o sucesso e o fracasso é questão de um dia. Revista AG - Se muitos ainda estão na métrica do UA (Unidade Animal) por hectare, como se adaptar a esta nova concepção? Antônio Chaker - O único jeito de a gente conseguir atualizar a métrica é entendê-la pelo aspecto financeiro. Lotação (UA/ha) continua sendo uma métrica-chave, mas não é a métrica fim. Até porque lotação não mede desempenho, só mensura quantidade de animais por unidade de área. Portanto, a gente precisa unir a lotação com o ganho médio diário, pois essa conexão fornecerá resultados em quilos produzidos, transformando a produção em arrobas. É a arroba de gado que o pecuarista vende para o frigorífico. Revista AG – Resumidamente, quais são os pilares da intensificação produtiva? Antônio Chaker - O primeiro pilar é o foco financeiro. Intensificação não é atividade fim, mas o meio para atingir a meta financeira estipulada. Depois vêm a lotação de pastagens, o ganho médio diário, as estratégias reprodutivas e nutricionais e tudo mais. Ou seja, a intensificação, em si, é o segundo passo. O terceiro é olhar para a equipe que vai executar. O quarto é o gerencial, avaliar tudo aquilo que está acontecendo e está por vir. Para tanto, entender as métricas é fundamental. Por último, o quinto passo, e mais importante, é criar uma cultura progressista na empresa. A cultura de jogar para ganhar. Revista AG - Julga que falta protagonismo do pecuarista à primeira tentativa de intensificar a produção? Antônio Chaker - Por que ele não é? Porque quando ele joga no escuro seu medo freia as decisões. Falta perspectiva e transparência. Isso ainda é uma herança cultural, pois nos anos 80 um boi gordo comprava cinco bezerros, uma vaca magra um hectare de terra e a arroba deflacionada valia quase R$ 400,00. Então, ele não precisava fazer nada de diferente. Isso acabou gerando uma imagem histórica de que a pecuária não dá prejuízo. O protagonismo necessário está surgindo na figura do patrão. É preciso preparar essa cultura do protagonismo. Revista AG - Ninguém arrisca vender a prazo para o JBS, mas torce o nariz para vender barato para o concorrente. Segura ou não o gado no pasto à espera de preços melhores? Antônio Chaker - Se o pecuarista está sem condição de caixa e a fazenda sem condição de pastagem, o “segurar”, sem sombra de dúvida, é a pior decisão. O gado vai sentir e como esse pecuarista estará sem caixa, vai recorrer a bancos. Esse dinheiro é muito mais caro. Esse é um ponto. O outro é observar as relações de troca. Julho, agosto e setembro não registram os melhores preços do ano para a arroba do boi gordo. Estava vindo de Rondônia. Lá, tem macho de qualidade a R$ 960,00 e fêmeas de qualidade a R$ 650,00. Não pode perder essa oportunidade, pois quando a arroba do boi gordo subir vai levar a reposição junto. Segurar sempre é muito perigoso e pode fazer perder ótimas oportunidades. Outubro, novembro e dezembro serão de preços maiores. Tire a emoção de lado e haja com a razão. Revista AG – Para encerrar, mercado futuro ou fazenda bem gerida? Ou os dois caminham juntos? Antônio Chaker - Do ponto de vista de como cada uma delas afeta o negócio, o impacto da fazenda bem gerida é incomparável. Cada 100g de aumento no GMD aumenta o lucro em R$ 260,00. A cada um real que se vende melhor, aumenta-se o lucro em R$ 7,00. O mercado futuro impacta muito menos que a gestão da fazenda, mas eu diria que o mercado futuro está dentro da fazenda bem gerida. E para quem não controla custos, mercado futuro não quer dizer muita coisa. Fonte: Revista AG - A Granja
22 de Agosto de 2017
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