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Parte da minha rotina é sempre analisar e me aprofundar em conclusões a partir dos dados do benchmarking que temos nas mãos. Eu não me canso de olhar esses números!!!!
Divulgamos as principais conclusões, em outubro, normalmente, mas o volume de reflexões e cruzamentos de informações é uma constante, pois são mais de 400 fazendas participantes que nos atualizam estes dados.
E, a pergunta mais latente é “por que há uma queda, ano a ano, no resultado médio das fazendas pecuárias medidos pelo instituto?”. Era próximo a R$100,00/ha na safra 2013/2014, passou para R$78,00/ha, em 2017/2018 e na última safra o resultado médio fechou abaixo dos em R$50,00/ha.
Sinto uma contradição muito forte, pois nunca tivemos tanta oferta de tecnologia para aumentar a produtividade. Temos moléculas, manejos e aparelhos para tudo, não é verdade? Porém, infelizmente, ainda não constatamos o impacto dessas tecnologias no lucro massivo das fazendas. O que falta é “fazer bem feito”.
Dizer que as ferramentas não funcionam é um equívoco, pois na contramão da média há um grupo de fazendas que cresce em rentabilidade a cada safra. Se analisadas, nos mesmos anos citados, os top 30% rentáveis têm mantido o resultado crescente, e com patamares de resultado máximo (top 10%) sendo superados ano a ano. Ao olhar para esses dois universos cheguei a várias conclusões e a s trago aqui, pois quero dar luz a quem está na média. E, pelo que constatei não é algo complexo. É mais “arroz com feijão” do que se imagina...
Foco no básico
“Fazer bem feito” e “arroz com feijão” são expressões que remetem ao mesmo fim: foco no processo básico. Na culinária, avançamos para a preparação de algo mais elaborado, na moda do Mastercheff, quando conseguimos fazer bem feito o trivial ou o “arroz com feijão”. Na fazenda é a mesma coisa. Quem está na frente é quem faz muito bem as coisas do dia a dia, ou seja, as tecnologias dominadas e, a partir de então, passam a ter resultados com a aplicação de inovações.
O problema é que as fazendas da média, não dão atenção para fazer os processos básicos com excelência, em todas as suas etapas. Seguem no “vamos que vamos” e isso não funciona. Por outro lado, as top rentáveis pensam diferentes. Elas têm foco no processo e fazem tudo com muito cuidado.
Saindo da cozinha e trazendo para um exemplo de fazenda, após um treinamento técnico um produtor optou por usar determinado aditivo. O consumo sugerido é baixo, apenas 2 gramas de produto por animal ao dia, o que reflete em um ganho de 80 gramas de ganho de peso. Cada R$1,00 gasto equivale a R$20,00 de lucro. Uau! Um negócio fantástico e ele decide implantar. Passado um mês, o resultado não veio na balança, muito pelo contrário, há retiros que ganharam menos peso do que o previsto. Ao visitar esses lugares, o produtor percebe que há problemas no abastecimento ou “salga” do cocho; falta de área linear por animal e só os dominantes comem e pouco acesso à água. Nesse caso, literalmente, o boi não lambe o produto como deveria. Sem consumir, não há o ganho.
Fica claro que é importante “abaixarmos a bola” quando pensamos em tecnologia. Normalmente, associamos a palavra ao contexto de inovação, porém, o dicionário nos traz para a realidade. “Tecnologia é o conjunto de métodos, instrumentos e técnicas que permitem o aproveitamento prático do conhecimento científico”. Portanto, o foco deve estar no uso do conhecimento e não nele em si.
Vamos à prática: um aparte de animais bem feito para que se tenha um lote homogêneo é uma tecnologia; como também o manejo correto de vacinação para que haja imunização eficiente. A igualitária distribuição de cochos e bebedouros para que os animais tenham consumo adequado; o manejo de pasto sem falta ou sobra entre outros. Todos esses conhecimentos trazem o aproveitamento prático de algo que alguém estudou e nos faz recomendações para o correto uso da ciência. Estão relacionados a ganhos produtivos e são de graça! Demandam muito mais atitude do que dinheiro.
Como mapear processos pecuários
Esse é o ponto que as fazendas da média precisam ter atenção. É preciso fazer bem feito o básico para depois avançar para patamares mais altos. Para isso, o foco está no processo e cada etapa precisa ser bem mapeada, ou seja, descrita. Quando escrevo como deve ser feito cada manejo fica mais fácil de perceber se as tecnologias estão surtindo o efeito que se deseja, pois começo a entender se há um problema de operação ou de produto. Esse trabalho precisa ser feito em parceria com a administração, equipe de campo e pessoal técnico.
Quando tenho um fluxo de produção, tenho processos, subprocessos e atitude. Por exemplo, no processo cria, temos os subprocessos: preparação para a monta, a monta em si, nascimento, desmame e descarte de fêmeas. Veja, o processo principal é dividido em vários subprocessos, motivando o detalhamento.
Em seguida, começamos a refletir sobre a “atitude”, ou seja, a ação dentro de cada subprocesso. Quais são as atitudes do vaqueiro para a preparação para a monta? Como deve ser o manejo de nascimento? Quais as regras do descarte? E essa descrição vai sendo pormenorizada a cada etapa para que se tenha clareza do processo de produção da fazenda.
As tecnologias que requerem investimento serão implantadas depois desta fase, em pontos em que são necessárias melhorias cuja solução está disponível no mercado ou para maximizar o lucro de um processo bem feito. Com essa clareza, ao racionalizar todas as etapas, o líder deixar de investir em tecnologias que são modas, paixões ou porque o representante é muito cordial e amigo.
Antes de investir, questione-se: O processo para uso da ferramenta está estabelecido? Preciso dela agora? A equipe está preparada? Quanto vou ganhar com isso? A partir das reflexões o líder terá clareza sobre quais ferramentas são necessárias para aumentar a lucratividade daquela unidade produtiva. Haverá fases de tecnologia sem custo e outras de investimento.
Quem ajuda na avaliação de quando deve ser usada cada coisa são os indicadores de processo. Eles são muito eficientes, pois indicam pontos que podem ser ajustados durante a operação. Exemplos de indicador de processo seriam a condição corporal. Já os indicadores de resultado, que temos mais familiaridade, nos mostram uma constatação, ou seja, algo que não poderá mais ser mudado na mesma safra, apenas na próxima como a fertilidade.
Nesse caminho, queremos resgatar a fazenda raiz, cujas práticas aprendemos com nossos avós, porém, sem perder o olhar moderno e inovador. Lembro muito bem, no início da carreira, fim da década de 90, em uma propriedade que trabalhei no Mato Grosso do Sul, o retiro do Jorge, era impecável. A tropa era bem arrumada, arreios pendurado e pasto bem manejado ao extremo. Prova é que ele nos procurava para colocar ou retirar animais da área que cuidava para não “perder ou surrar de mais o capim”. Até a quebra de seu chapéu era alinhada. Sem dúvida, aquele retiro era nosso campo de testes para tecnologias que demandavam investimento, pois tínhamos os processos muito bem feitos e seria possível avaliar o resultado do produto.
Faça como o retiro do Jorge, tenha processos bem estabelecidos e deixe a fazenda pronta para que as tecnologias venham agregar renda e não sejam um ralo para o lucro. No último evento da Scot Consultoria, no início de abril, que participei e foi excelente, deixei muito claro: a tecnologia é a ferramenta para conquistar a meta e não a meta em sí. Foco no processo, pessoal.
30 de Abril de 2019
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