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PECUÁRIA VERDE: RECEITA DE LUCRO

Cliente Inttegra, é destaque na revista DBO pelos resultados consistentes na pecuária. 

Autoria: Maristela Franco 

Lançado pelo Sindicato Rural de Paragominas (PA), em 2011, o Projeto Pecuária Verde deixou uma herança inestimável no Pará: a consciência de que a intensificação de pastagens é o caminho para o lucro. Parte de um esforço para retirar a pecuária local do extrativismo e melhorar sua imagem após a Operação Arco de Fogo de 2008, conduzida pelo Ministério Público Federal contra o desmatamento ilegal na Amazônia, o projeto passou por três fases.

Na primeira (2010-2011), foram estabelecidos seus fundamentos, com apoio das ONGs Amigos da Terra e The Nature Conservancy (TNC). Na segunda (2012-2014), foram realizadas ações diretas em seis fazendas-piloto, com recursos do Fundo Vale e da Corteva, sob orientação dos professores Ricardo Ribeiro Rodrigues, Moacyr Corsi (ambos da Esalq/USP) e Mateus Paranhos, da Unesp-Jaboticabal. Na terceira fase (2015 a 2024), os próprios produtores assumiram os custos da consultoria.

“O projeto previa ações nas áreas de recuperação ambiental, intensificação de pastagens e bem-estar animal. Em seu auge, em 2021, tinha 15 participantes”, informa o agrônomo Arlindo Pacheco Junior, que acompanhou o trabalho do professor Moacyr Corsi na região. Hoje, ele atende um número equivalente de fazendas no Pará, por meio de sua consultoria PI Serviços Agropecuários. Muitas delas são “herdeiras” do Pecuária Verde, como a Dona Eunice, que DBO visitou a convite da TNC.

São 720 ha de solos arenosos e topografia plana, localizados em Maracanã, na região Bragantina paraense, distante 135 km de Belém. A propriedade pertence ao pecuarista Antônio Magalhães Lobato, que, neste ano, produzirá, em seu módulo intensivo mais antigo, cerca de 50@/ha, uma produtividade muito elevada para a pecuária de corte nacional, cuja média é de 4-5@/ha.

Paixão pela técnica

Representante da sétima geração de uma família de pecuaristas de Marajó, Lobato perdeu seu pai jovem, aos 17 anos, e inspirou-se nele para conduzir sozinho a fazenda de 5.000 ha que recebeu de herança na Ilha de Marajó (dedicada à cria) e depois a Fazenda Dona Eunice, adquirida por ele em 2005, em região já antropizada há mais de 200 anos. “Nunca desmatei nada”, afirma Lobato, admitindo que, no começo de sua trajetória como pecuarista, andou meio à deriva, mas depois se apaixonou pela intensificação. “Foquei minha atenção no professor Moacyr Corsi, porque ele domina plenamente essa técnica que abre as portas para a produtividade”, diz.

O primeiro módulo de pastejo intensivo (batizado de Mamede) foi montado em 2017, quando o produtor ingressou no Projeto Pecuária Verde. Respeitando uma premissa da intensificação estabelecida por Corsi, ele “começou pequeno”, nessa área de 18 ha formada com Mombaça, que equivale a 4,4% de suas pastagens.

“Em 2024, o Mamede sozinho respondeu por 20% da minha produção, mesmo com uma seca muito severa. Fazendo uma análise comparativa: ele forneceu 24.607 kg e faturou R$ 208.915 (lucro médio de R$ 5.586/ha), ante 5.636 kg produzidos, R$ 47.850 de receita total e R$ 1.118 de prejuízo do M5 (pasto não adubado). Neste ano, rodei dois módulos de intensivo (44 ha, 11% do total de pastagens), que elevaram a produtividade média da fazenda em 80%. Nas águas de 2026, já serão quatro, totalizando 88 ha (21,72% do total)”, informa Lobato.


Sistema produtivo

O rebanho médio da Fazenda Dona Eunice é de 800 machos, dependendo da época do ano. “Hoje, faço principalmente recria. Ainda engordo alguns lotes, mas a maioria envio para um boitel da região. Já fiz terminação intensiva a pasto (TIP) na fazenda, mas não deu muito certo, por falta de infraestrutura adequada. No futuro, pretendo investir nisso. Já reservei até uma área de 90 ha para montagem dos piquetes”, diz Lobato.

Parte dos bezerros recriados na Dona Eunice são “crioulos” e vêm da propriedade do pecuarista em Marajó. Eles são levados para a Dona Eunice com 160-170 kg aos 6-7 meses de idade. “Sou obrigado a tirá-los cedo das mães e embarcá-los logo após a desmama, devido às condições difíceis para recria em Marajó, onde alaga nas águas. Em Maracanã, também chove muito (3.434 mm de janeiro a julho, em 2024), mas o solo não encharca”, explica o produtor.

Ao chegar na Fazenda Dona Eunice, os bezerros próprios vão direto para o pasto, onde recebem 0,3% do peso vivo em proteico-energético para dar uma “arrancada”. Já os adquiridos de terceiros chegam à fazenda no final da “seca”, período que dura cerca de cinco meses (agosto a dezembro) e registra menos chuva (média de 255 mm, em 2024). “Esta é a época mais favorável para comprar animais de reposição, porque falta pasto e os preços caem”, salienta Lobato. Se a fazenda está com baixa lotação na seca, os animais adquiridos vão para os pastos, Do contrário, são colocados em piquetes de “sequestro”, onde recebem silagem de capim mais concentrado, visando ganhos de 450 a 500 g/cab/dia.

“Neste ano, como mandei muito gado para o boitel, não precisei usar essa estratégia; posso até vender a silagem”, destaca o produtor. Segundo ele, após 100 mm de chuva, os pastos já explodem e os módulos intensivos (previamente roçados e corrigidos) podem receber até 3 UAs/ha.

“No Mamede, chegamos a 7 UAs em alguns momentos. A lotação média deste módulo, entre janeiro e setembro de 2025, foi de 4,46 UA/ha e o GMD bateu em 908 g/cab/dia, só com sal mineral, ante 0,54 UA e 588 g, respectivamente, do pasto não adubado”, diz Lobato. “O GMD paga a conta, mas é a taxa de lotação que garante o lucro”, frisa Arlindo Pacheco. Boa parte dos bovinos da fazenda entra nas áreas intensivas com 270-300 kg e vão para engorda a pasto ou em boitel com 420 kg (15@). São abatidos aos 28-29 meses, com 20-21@.

 

Manejo calibrado faz diferença

Parte importante do legado deixado pelo Projeto Pecuária Verde no Pará foi a excelência no manejo de pastagens intensivas, que exige dedicação e olhar apurado. Na Fazenda Dona Eunice, esse trabalho é feito pelo gerente José Maria Muribeca, que consegue medir visualmente a altura do dossel, além de avaliar a capacidade de suporte do pasto com alta precisão. Ele foi devidamente treinado para isso e é orientado, regularmente, pelo agrônomo Arlindo Pacheco, que sugere ajustes eventuais, quando necessário.      
“A observação diária é de grande importância nesse tipo de pastejo rotacionado com adubação; qualquer cochilo do manejador pode afetar negativamente a relação haste/folha do capim, alterando a qualidade da forragem e prejudicando o desempenho dos animais”, diz o consultor.

O módulo intensivo mais antigo da Fazenda Dona Eunice (o Mamede) tem formato de pizza, com oito piquetes de 2 ha cada e praça de alimentação ao centro, delimitada por cercas feitas com mourões de madeira e fitas eletroplásticas. “Elas funcionam muito bem, os animais respeitam o choque”, informa Seu Zé Maria.

O outro módulo intensivo (M8) já é retangular e composto por dois grupos de quatro piquetes (veja mapa). Cada grupo tem sua própria praça de alimentação, mas o lote roda os oito piquetes. “Prefiro esse formato, porque ele é mais flexível. Posso, por exemplo, concentrar o gado em quatro piquetes, se eu precisar fazer alguma intervenção nos demais. Além disso, a distância percorrida pelos bovinos da praça até o fundo do piquete é mais curta, não passa de 200 m. Isso reduz problemas de malhadouro e desuniformidades no pastejo”, explica Lobato.

Antônio Lobato, com a equipe da Fazenda Dona Eunice: o gerente José Maria (à esq.), Dielton Pereira e Rodrigo Telles (vaqueiros).

O período de permanência dos animais em cada piquete varia de 1,5 a 2,5 dias, seguidos por 14-17 dias de descanso. “Se o capim é consumido muito rápido, acende um ‘sinal vermelho’ pra gente de que a lotação está alta e é preciso diminuí-la. Se os animais permanecem no piquete por 2,5 dias e não conseguem, nesse período, consumir a forragem até a altura recomendada, já sabemos que a lotação está baixa, que precisamos colocar mais gado na área”, exemplifica o produtor.

Seu Zé Maria não usa régua ou qualquer outro instrumento para medir as alturas de entrada e saída do pasto. “É tudo no olho mesmo”, diz. “O Zé é um craque neste ofício. Os animais confiam tanto nele que, se ele abrir a porteira do piquete e sair caminhando, vão atrás sem hesitar, porque só esperam coisa boa”, conta o consultor.

Foco no resíduo

Um dos principais desafios do manejo em pastagens rotacionadas e adubadas é controlar o resíduo de pastejo, durante o período chuvoso. “No começo, a gente batia muito na trave em ganho de peso por causa disso. Eu dizia para o manejador deixar os animais pastejarem o Mombaça rente ao resíduo (até a altura de 30 cm), mas, com o passar do tempo, percebemos que isso estava prejudicando seu desempenho. Se eles permaneciam algumas horas a mais na área, acabavam entrando no resíduo e comendo forragem de menor qualidade (com menor proporção de folhas). Para evitar isso, decidimos deixar sempre um ou dois dedos acima dos 30 cm preconizados, por segurança. Com essa medida, o ganho de peso melhorou bastante”, relata Pacheco.

Segundo o consultor, quando se entra muito no resíduo do pasto, além de prejudicar o desempenho dos animais, pode-se também atrapalhar a rebrota do capim. O contrário (resíduo alto) também é problema, porque as hastes se alongam e a produção de folhas novas diminui, obrigando o produtor a reduzir a lotação para manter o ganho de peso. “O manejo correto do pasto é a alma desse negócio. O planejamento também, porque, se chega o período das águas e não estamos com os animais prontos para entrar nos módulos intensivos, o resíduo sobe, por falta de bocas para consumir toda a forragem produzida. Muita gente se perde aí”, diz Lobato, que usa planilhas contendo séries históricas de lotação para apoiar as observações de campo do manejador. Questionado sobre quem acerta mais – o olho ou a planilha? –, responde: “A combinação dos dois”.

Cultivares e adubação

Os módulos de intensivo são formados apenas com cultivares do gênero Panicum, especialmente Mombaça (capim altamente produtivo, que tem maior tolerância ao excesso de chuvas) e Zuri (igualmente produtivo, cobre bem o solo).

Segundo Arlindo Pacheco, essas escolhas se justificam: para cada 50 pontos de N aplicado, os Panicuns entregam 1,5@ a mais do que as Braquiárias. Até 2024, a Dona Eunice tinha um módulo de Xaraés no sistema, mas Lobato decidiu parar de adubá-lo intensivamente. “Não é um capim ruim, mas não consegue atingir os níveis de produção do Mombaça. Nas últimas águas, ele sofreu forte ataque de lagarta e ainda se recuperou, sustentando lotação de 2 UA/ha e garantindo ganho de 1,17 kg/cab/dia, com 3 kg de ração por animal. Forneceu 24,45@/ha, mas o lucro foi baixo, por causa do custo da suplementação”, diz o pecuarista.

Segundo Lobato, a rotina dos módulos intensivos começa, em dezembro, com a roçagem dos pastos até 30 cm, para obter uma rebrota homogênea no início das águas. O gado somente entra na área quando o capim atinge altura de 80-90 cm. Ao final de cada ciclo de pastejo, faz-se uma adubação.

“Em 2025, o módulo Mamede recebeu 310 kg de N/ha e o M8, cerca de 280 kg, porque era seu primeiro ano como intensivo, mas, ainda assim, ele garantiu GMD de 702 g/cab/dia e produção de 34@/ha/ano”, informa o produtor, lembrando que adubar na hora certa é fundamental e também monitorar o desempenho dos bovinos. As pesagens são mensais e os dados vão direto da balança para o sistema Multbovinos, associados aos números de identificação dos animais.

Planos futuros

A meta de Lobato é intensificar 50% das pastagens da fazenda nos próximos três/quatro anos. “Se eu pudesse, faria 100%, mas essa equação não é tão simples. Quanto mais eu intensifico, mais preciso ter capital para comprar gado e estrutura para sustentar altas lotações na seca, como produção de silagem, instalações para TIP ou confinamento”, explica Lobato, salientando que sua prioridade agora é extrair o máximo das áreas já intensificadas e daquelas que entrarão no sistema em 2026.

“Os módulos de pastejo intensivo levam tempo para maturar. O Mamede, por exemplo, demorou três anos para sair de 36,2@/ha/ano (em 2018) para 43 (em 2021), somente atingindo 50@, em 2025. O GMD dos animais no módulo aumentou 98,2% em oito anos, subindo de 458 para 815 g/cab/dia, em 2024”, relata o produtor.

O período de maior produção de arrobas na Fazenda Dona Eunice é o primeiro semestre (período das águas ou inverno amazônico), por causa das altas lotações, mas o GMD pode cair um pouco, principalmente em março/abril, quando chove intensamente (cerca de 1.000 mm/mês) e os dias ficam nublados, reduzindo a produção de capim.

“Neste ano, os animais do Mamede ganharam 60 g a menos no primeiro semestre do que no segundo”, informa Lobato. Segundo ele, a média de 908 g/cab/dia registrada em 2025 (até outubro) deveu-se a ajustes no manejo, ao clima favorável neste ano e ao uso de protocolos preventivos contra a tristeza parasitária. “Como não temos essa doença em Marajó, os animais chegavam sem imunidade na Dona Eunice e acabavam apresentando sintomas (muitas vezes subclínicos), o que prejudicava seu desempenho”, diz Lobato. Para evitar isso, o produtor está aplicando um antiparasitário nos bezerros 15 dias após sua chegada à propriedade.

Você sabia que a intensificação…

1. Poupa área? Para abastecer um frigorífico que abate 180.000 cab/ano, bastariam 43.000 ha em sistema intensivo, com produção de 44,25@/ha/ano, ante 373.000 ha do extensivo, com produção de 4,91@/ha/ano.

2. Encurta o ciclo? Considerando-se os números da Fazenda Dona Eunice, um animal de 230 kg, no intensivo, consegue incorporar 300 kg durante a recria/engorda, com GMD de 733 g/cab/dia, chegando ao ponto de abate (530 kg) em 13,5 meses, enquanto, no pasto não adubado, ganhando 445 g/cab/dia, leva 22 meses.

 

Fonte: https://portaldbo.com.br/revistadbo/revista-dbo-edicao-537-nov-dez-2025/

 

2 de Dezembro de 2025

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